quarta-feira, 31 de março de 2010

Deixar de se enganar

"Praticamos sazen como alguém que está para morrer. Não há nada em que se fiar, nada em que se apoiar. Por estarmos morrendo, não queremos nada; portanto, não podemos ser enganados por nada.
A maioria das pessoas, na verdade, não é enganada por nada, mas são enganadas, sim, por elas mesmas, pelos seus talentos, por sua beleza, confiança ou ponto de vista. Deveríamos saber se estamos ou não nos enganando. Quando somos enganados por algo diferente de nós, o dano não será tão grande. Mas quando somos enganados por nós mesmos, é fatal.
[...]
Contemplem seus rostos no espelho para ver se ainda estão vivos ou não. Ainda que pratiquem o sazen, se não pararem de se deixar enganar, não será de muita valia. Compreendem?
Vamos praticar bastante, enquanto ainda estamos minimante vivos"
(Shunryu Suzuki, Nem sempre é assim, Religare).

segunda-feira, 29 de março de 2010

Cuidando do solo

"O vazio é o jardim onde não se pode ver nada. Na verdade, é a mãe de tudo, de onde todas as coisas surgirão" (Shunryu Suzuki, Nem sempre é assim. Religare).

domingo, 28 de março de 2010

O luar

O Luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.
(Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ficções de Interlúdio/1)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Bondade amorosa

Inspirando, sei que a raiva me deixa feio.
Expirando, não quero que a raiva me deforme.
Inspirando, sei que devo cuidar de mim.
Expirando, sei que a bondade amorosa é a única resposta.
(Thich Nhat Hanh, Momento Presente Momento Maravilhoso, Sextante)

terça-feira, 23 de março de 2010

Zen, religião da vida

Para o Zen, a vida não se resume a uma rotina; ela é a liberdade do espírito, livre das circunstâncias exteriores e de ilusões interiores. Sua própria natureza é tal que não pode ser descrita por palavras, e o modo mais próximo de atingi-la é usando analogias. A vida é como o vento que se move na face da terra, não parando nunca em lugar algum, nunca se apegando a qualquer objeto específico, sempre se adaptando às subidas e descidas do terreno. Caso tais analogias deixem a impressão de um lassaiz-faire onírico, temos que lembrar que o Zen não é sempre uma brisa gentil; a maior parte das vezes é como um furacão que varre tudo diante de si, um vento enregelante que penetra o coração de tudo e atravessa até o outro lado! A liberdade e a pobreza do Zen consistem em deixar tudo e "caminhar em frente", pois isso é tudo o que a vida faz, e o Zen é a religião da vida.
(Alan Watts, O espírito do Zen, L&PM)

segunda-feira, 22 de março de 2010

"Gate gate paragate parasamgate bodhi svaha"

O mantra de Avalokitesvara é "Gate gate paragate parasamgate bodhi svaha". Gate significa ter ido. Ter ido da inconsciência até a mente atenta. Ter ido da dualidade até a não-dualidade. Gate, gate significa ter ido, ter ido. Paragate significa ter atravessado até a outra margem. Então, este mantra é recitado de uma maneira muito forte. Ter ido, ido completamente. Em Parasamgate, 'sam' significa todas as pessoas, a sangha, toda a comunidade de seres. Bodhi é a luz interna, iluminação ou despertar. Você a vê e a visão da realidade desperta você. E Svaha é um grito de exaltação ou euforia, como "Bem-vindo!" ou "Aleluia!". "Ter ido, ido, ido completamente, todos terem ido à outra margem, iluminação, svaha!".
(Explicação de Thich Nhat Hanh em O coração da compreensão, Bodigaya)

domingo, 21 de março de 2010

Vazio-forma

Todos os fenômenos são vazio-forma,
Não nascidos, não mortos,
Não puros, não impuros,
Não perdidos, não encontrados.
Assim é tudo dentro do vazio.
(Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa)

sábado, 20 de março de 2010

A morte de Viviane

A execução por assaltantes da advogada Viviane Maris Rieck dos Santos chocou o Vale dos Sinos. A morte de Viviane, num cruzamento no centro de Novo Hamburgo, é fruto da negligência de toda a sociedade com o aumento da escalada da violência e com suas causas. Infelizmente, a ideia que permeia a sociedade é "ainda bem que não foi comigo". E a vida segue.
A vida ceifada de Viviane nos coloca diante do impermanente: "tudo pode acontecer a qualquer momento". E nos confronta com a inevitável verdade de que podemos ser a próxima vítima. Até quando? Fica claro que não podemos apenas esperar.
Por outro lado, expõe a existência miserável dos assaltantes, perdidos entre drogras e violência pura. Que causas e condições fizeram eclodir as sementes do mal? Falta de oportunidades?
As palavras de Dogen (abaixo), fundador da ordem Zen Soto Shu, são para os familiares de Viviane e para todos que se já se viram diante da perda de alguém querido.


Arte de Morrer – Budismo – Zen Budismo


A lenha se transforma em cinza.
A cinza não se transforma em lenha novamente.
Mas não devemos pensar que a cinza é depois e que a lenha é antes.
Saiba que a lenha tem a sua posição no darma*, de lenha, e assim, sendo lenha, tem seu passado e seu futuro.
Embora tenha passado e futuro, atravessa passado e futuro.
A cinza está em sua posição do darma* de cinza e tem seu passado e futuro.
Assim como a lenha, depois de se tornar cinza, não volta a ser lenha novamente, da mesma maneira uma pessoa, após a morte, não volta à vida.
Por isso não dizemos que a vida se transforma em morte.
Este é o caminho estabelecido do Darma* de Buda.
Por esta razão é chamado de não nascido.
A morte não se torna vida.
Este é o estabelecido girar da roda do Darma* de Buda.
Por esta razão é chamado de não morto.
A vida tem o seu próprio tempo: começo, meio e fim.
A morte tem o seu próprio tempo: começo, meio e fim.
Por exemplo, é como inverno e primavera.
Não pensamos que o inverno se torna primavera.
Não dizemos que a primavera se transformou em verão.

(Shobogenzo Genjokoan de Mestre Eihei Dogen -1200-1253)

Fonte: http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-da-monja-coen/299-arte-de-morrer-budismo-zen-budismo


quarta-feira, 17 de março de 2010

Esta vida

Assim devemos pensar sobre este mundo efêmero: uma estrela ao amanhecer, uma bolha na correnteza, o brilho de um relâmpago numa nuvem de verão, uma lamparina tremulante, um fantasma, um sonho.
(Sutra da Perfeição da Sabedoria do Diamante que Corta as Ilusões)

segunda-feira, 15 de março de 2010

A meditação budista

Na meditação budista, nós não nos esforçamos pelo tipo de iluminação que irá acontecer cinco ou dez anos para frente. Nós praticamos para que cada momento de nossa vida se torne vida real. E, portanto, quando meditamos, nós sentamos por sentar; nós não sentamos por algo mais. Se nós sentamos por vinte minutos, estes vinte minutos devem nos trazer alegria, vida. Se praticamos meditação caminhando, nós caminhamos apenas por caminhar, não para chegar. Nós temos de estar vivos a cada passo, e, se estivermos, cada passo nos devolve vida real. O mesmo tipo de mente atenta pode ser praticado quando tomamos o café da manhã, ou quando pegamos uma criança nos braços. Abraçar é um costume ocidental, mas nós, orientais, gostaríamos de contribuir com a prática da respiração consciente durante o abraço. Quando você segura uma crianças nos braços, ou abraça sua mãe, ou seu marido, ou seu amigo, inspire e expire três vezes e sua felicidade será multiplicada ao menos por dez. E quando você olhar para alguém, realmente olhe com a mente atenta e pratique a respiração consciente.[...]
Cada respiração, cada passo que damos, cada sorriso que nós produzimos é uma contribuição positiva à paz, um passo necessário na direção da paz para o mundo. Sob a luz do interser, paz e felicidade na vida diária significam paz e felicidade no mundo.
(Thich Nhat Hanh, O Coração da Compreensão, Bogigaya)

domingo, 14 de março de 2010

Apenas borboleta

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro, Ficções do Interlúdio)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Respire, você está vivo!

Respire e saiba que está vivo. Respire e saiba que tudo está cooperando com você. Respire e saiba que você é o mundo. Respire e saiba que a flor está respirando você. Respire por você mesmo e pelo mundo, inspire compaixão e expire alegria.
Respire e seja um com o ar que respira, respire e seja um com o rio que corre. Respire e seja um com a terra que pisa, respire e seja um com o fogo que cintila. Respire e corte o pensamento sobre nascimento e morte, respire e veja a impermanência da vida.
Respire para que a sua vida seja estável e calma. Respire para que sua tristeza vá embora. Respire para renovar cada célula de seu sangue, respire para renovar as profundezas de sua consciência. Respire e habite no aqui e agora, respire e tudo que você tocar será novo e real.
(Thich Hhat Hanh, Momento Presente, Momento Maravilhoso, Sextante)

terça-feira, 9 de março de 2010

O presente


O passado é lembrado como passado no momento presente, e o futuro é esperado como futuro no momento presente. Cada momento contém todo o tempo. Desse modo, o momento tem um aspecto de intemporalidade. O "agora" é eterno.
(Escritos do Mestre Dogen, A lua numa gota de orvalho, Editora Siciliano)

sábado, 6 de março de 2010

Meditação - Zazen

Para efetivar a bem-aventurança que vem da meditação, deves praticá-la com uma pura intenção e firme determinação. O quarto de meditação deve ser calmo e limpo. Não mantenha pensamentos bons ou maus. Somente relaxa e esquece que estás meditando. Não desejes a realização pois esse pensamento te deixará confuso.
Senta numa almofada da maneira mais confortável possível, usando roupas folgadas. Mantém o teu corpo ereto sem te inclinares para a esquerda ou a direita, para frente ou para trás. Os teus ouvidos devem estar em linha com os teus ombros, e o nariz numa linha reta com teu umbigo. Mantém a língua na abóbada palatina da tua boca e feche os lábios. Mantém teus olhos ligeiramente abertos e respire pelas narinas.
Antes de começares a meditação, respira lentamente fazendo profundas inspirações e expirações. Mantém teu corpo ereto, permitindo que a respiração seja novamente normal. Muitos pensamentos irão inundar tua mente, ignora-os, deixe que eles passem. Se eles persistirem, sejas consciente deles com uma consciência que não pensa. Em outras palavras, pense não pensando.
A meditação zen não é uma cutura física, nem um método para ganhar algo material. É uma pacificação e uma benção sem si mesma. É a realização da verdade e da sabedoria.
(Mestre Dogen, adaptado do Fukanzazengi. Ensinementos do Buda, Rocco)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Abrindo a torneira de água

A água desce do alto das montanhas
E corre nas profundezas da terra
Milagrosamente a água vem até nós
e sustenta a vida em sua totalidade.

(Versos para começar o dia - Thich Nhat Hanh)

Mente de principiante

"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito" (Suzuki, Shunryu).