sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Breve Parinirvana Buda
Breve Parinirvana Sutra
Quando Xaquiamuni Buda girou pela primeira vez a Roda do
Dharma, Ajnata-kaundinya despertou. Em seu último discurso do Dharma, Subhadra
se iluminou. Todos que deveriam ser despertos assim o foram. Entre duas
árvores-sala, Xaquiamuni Buda estava quase entrando em Parinirvana. Era o meio
de uma noite calma, silenciosa, sem nenhum ruído. Para o bem de todos seus
discípulos Xaquiamuni Buda fez uma breve explicação da essência do Dharma:
Oh, Monges!
Depois de minha morte respeitem e compartilhem os Preceitos.
Manter os Preceitos é como encontrar uma luz na escuridão; é como uma pessoa
pobre encontrando um grande tesouro. Saibam que os Preceitos são, para vocês, o
mestre. Manter os Preceitos é Me manter sempre vivo neste mundo. As pessoas que
mantêm os Preceitos não devem se dedicar ao comércio nem devem possuir campos e
moradias, não devem governar sobre outras pessoas e nem manter servos ou
animais. Devem evitar possuir plantações e acumular bens, da mesma forma que
evitariam uma fogueira. Não devem cortar grama nem árvores, arar o solo ou
cavar a terra, misturar remédios, ler a sorte, observar a posição das estrelas,
predizer as fases da lua, calcular calendários e dias auspiciosos. Controlem
seus corpos, comam nas horas certas, em pureza se conduzam. Não se envolvam nos
afazeres mundanos, nem ajam como mensageiros, não façam mágicas, não misturem
poções e não se tornem íntimos com pessoas eminentes. Com a mente clara e
correta atenção vocês devem procurar o despertar. Vocês não devem esconder seus
erros, não devem expressar pontos de vista errôneos e nem liderar pessoas
erroneamente. Ao receber as quatro espécies de ofertas, saibam a quantia
correta e fiquem satisfeitos. Não acumulem ofertas.
Agora vou falar brevemente em como proteger os Preceitos. Os
Preceitos são a base da verdadeira libertação, por isso são chamados de
Pratimoksa - o que leva à libertação. A confiança nos Preceitos faz surgir
todos os dhyanas e a sabedoria que extingue o sofrimento. Por esta razão,
Monges, vocês devem manter os Preceitos e não os devem infringir. Se vocês
mantiverem os Preceitos obterão o Bem. Se não os mantiverem, nenhum mérito
surgirá. Assim, saibam que os Preceitos são o local onde vive a equanimidade,
que é o mérito fundamental.
Oh, Monges!
Vocês que mantêm os Preceitos devem controlar os cinco
sentidos. Não deixem os sentidos desprotegidos, permitindo que os cinco desejos
penetrem e controlem vocês. É como o vaqueiro que brande sua vara para evitar
que o gado invada a plantação de outra pessoa. Se há indulgência nos cinco
sentidos, os cinco desejos ficarão à solta e vocês serão incapazes de
controlá-los. Novamente repito: é como um cavalo bravo que não pode ser
controlado pelo chicote e cai numa vala levando seu cavaleiro com ele. Embora o
sofrimento de ser ferido por um ladrão dure apenas uma vida, o mal causado
pelos cinco sentidos se estende através de muitas vidas, criando grande dor.
Não negligenciem a atenção. É por esta razão que a pessoa sábia controla seus
sentidos e não os segue, os mantêm guardados, não permitindo que vagueiem ao
léu. Os sábios quando libertam os cinco sentidos logo os aquietam. A mestra dos
cinco sentidos é a mente. Por esta razão vocês devem controlar suas mentes. A
mente deve ser mais temida que as cobras venenosas, bestas selvagens ou assaltantes
vingadores. Grandes incêndios e destrutivas enchentes não podem ser comparados
a ela. É como uma pessoa que, correndo celeremente com uma jarra de mel nas
mãos, olhe apenas para o mel e não veja um grande buraco. Repito, é como um
elefante enlouquecido sem uma corrente ou um macaco pulando nas árvores. Ambos
são muito difíceis de se controlar. Dominem logo a mente e não a deixem
desembestar. Se cederem, perderão a boa sorte de terem nascido humanos. Se
mantiverem a mente focalizada, não haverá algo que não possam obter. Por esta
razão, Monges, vocês devem se esforçar com muita diligência, para manter a
mente sob controle.
Oh, Monges!
Quando receberem comida e bebida vocês as devem considerar
como remédio. Não peguem mais daquilo que gostam e menos daquilo que desgostam.
Apenas aceitem o suficiente para manter suas vidas e controlar a fome e a sede.
Façam como a abelha que apanha apenas a doçura das flores sem manchar sua cor
ou tirar sua fragrância. Aceitem apenas o suficiente das ofertas para evitar
tristezas. Não peçam muito para não destruir as boas intenções. Isto se compara
à pessoa sábia que conhece a força de seu touro e não o sobrecarrega.
Oh, Monges!
Dia e noite pratiquem com determinação o bom ensinamento.
Não percam tempo. Não negligenciem seus esforços nem mesmo à noite nem pela
manhã, ao amanhecer. No meio da noite recitem os Sutras. Assim vocês devem
ordenar suas vidas. Não deixem que a vida passe à toa, apenas dormindo, sem
obter a realização. Vocês devem se lembrar que o mundo todo está sendo
consumido pelo fogo da impermanência. Rapidamente procurem despertar e não
dormir. As paixões estão sempre prontas para matar uma pessoa, mais do que um
inimigo mortal. Como vocês podem ficar dormindo e abaixar a guarda? As paixões
são como uma cobra venenosa dormindo em sua mente. Não são diferentes de uma
cobra negra dormindo em seu quarto. Espante-a com a ponta aguda dos Preceitos.
Vocês só poderão dormir tranqüilos depois que a cobra sair. Se dormirem
enquanto a cobra ainda estiver lá, vocês estarão agindo sem consciência. Entre
as coisas refinadas, a tecedura da consciência é a melhor de todas. A
consciência é como uma agulha de ferro com a qual se pinçam os enganos. Assim
sendo, Monges, sempre sigam sua consciência e não a ignorem nem por um só
momento. Esquecendo-se da consciência, perdem-se todos os méritos. Aqueles que
conhecem o pudor sabem do bom ensinamento. Aqueles que não conhecem o pudor não
são diferentes de bestas selvagens.
Oh, Monges!
Se alguém vier desmembrá-los, articulação por articulação,
vocês devem controlar a mente e não permitir que a raiva surja. Da mesma forma,
vocês devem proteger suas bocas, caso contrário, palavras más sairão delas. Se
vocês permitirem pensamentos de raiva, vocês estarão obstruindo seus próprios caminhos
e perdendo o benefício de seus méritos. A paciência é uma virtude superior à
manutenção dos Preceitos e das práticas ascéticas. As pessoas que praticam
paciência podem verdadeiramente ser chamadas de poderosas, de seres superiores.
As pessoas que com paciência e alegria podem aceitar o veneno do abuso como se
estivessem bebendo néctar celestial ? essas podem ser chamadas de pessoas de
sabedoria que adentraram o Caminho. Por quê? Porque os efeitos maléficos da
raiva quebram todos os bons ensinamentos e destroem o bom nome, de forma que,
tanto no presente como no futuro, as pessoas não sentirão prazer ao vê-las.
Vocês devem saber que a raiva é mais poderosa que o fogo ardente. Sempre se
protejam e não permitam que a raiva penetre em você. Nenhum ladrão rouba mais
méritos do que a raiva. Leigos, cheios de apegos e desejos, sem praticar o
Caminho, sem conhecer o Dharma para se controlar, mesmo neles a raiva não é
desculpável. Aqueles que deixaram o lar e praticam o Caminho do não apego nunca
devem permitir que a raiva surja, assim como o trovão e o raio não ocorrem num
céu suave e claro.
Oh, Monges!
Lembrem-se de suas cabeças raspadas. Vocês já abandonaram as
ornamentações, usam roupas simples e praticam a mendicância. Se o orgulho
surgir, vocês o devem extinguir rapidamente. Cultivar o orgulho não é
apropriado para quem vive uma vida comum, muito menos para quem deixou seu lar,
adentrou o Caminho, controla seu corpo e pratica o esmolar para obter a
libertação.
Oh, Monges!
A mente desonesta é incompatível com o Caminho. Por esta
razão vocês devem cultivar a honestidade. Vocês devem saber que a desonestidade
só produz enganos. Quem adentra o Caminho não age assim. É por isso, Monges,
que vocês devem ter a mente correta e agir baseados na honestidade.
Oh, Monges!
Vocês devem saber que uma pessoa de muitos desejos,
procurando grandiosidade apenas para si mesma, sofre muito. A pessoa de poucos
desejos, que nem procura e nem deseja, não tem este pesar. Esta é a simples
razão pela qual vocês devem ter o mínimo de desejos. Mais do que isso: devem
ter poucos desejos porque esta é a fonte de todos os bons méritos. Uma pessoa
de poucos desejos não manipula a mente dos outros através da desonestidade, nem
é levada pelos seis órgãos dos sentidos. A mente de quem tem poucos desejos é
tranqüila e sem preocupações. O que tiver é suficiente, nunca há insuficiência.
Para aqueles que têm poucos desejos o Nirvana existe. Esta é a prática de
poucos desejos.
Oh, Monges!
Se vocês querem se libertar de todo o sofrimento, vocês
devem conhecer o contentamento. O estado de contentamento é a condição de
prosperidade e bem estar. A pessoa contente fica feliz mesmo quando tem apenas
a terra para se deitar sobre ela. A pessoa que não se contenta está
insatisfeita mesmo em palácios celestiais. Quem não conhece o contentamento é
pobre, apesar de todas as riquezas que possa ter. Alguém que é contente é rico,
não importando quão pobre possa ser. Quem não conhece o contentamento é sempre
arrastado por desejos e deve ser apiedado por quem é contente. Esta é a prática
do contentamento.
Oh, Monges!
Se vocês procuram pela benção da tranqüilidade irremovível,
devem abandonar o tumulto da sociedade e viver a sós em um retiro quieto.
Aqueles que vivem em solidão são honrados por Indra e por seres celestiais. Por
isso vocês devem deixar tanto as suas como as outras vilas ou cidades e viver a
sós em locais remotos, com a intenção de extinguir a origem do sofrimento. Os
ávidos por companhia sofrem dificuldades por excesso de companhia, assim como a
árvore corre o risco de murchar se muitos pássaros viverem nela. Se estiverem
apegados ao mundo irão afundar no sofrimento comum, assim como um velho
elefante se afoga na areia movediça e dali não consegue sair. Tal é a prática
do isolamento.
Oh, Monges!
Se vocês diligentemente mantiverem o esforço correto nada
será difícil. Por isso vocês devem manter o esforço correto diligentemente,
assim como o constante gotejar da água fura uma rocha. Se a mente do praticante
for inclinada à indolência, será como esfregar a madeira para iniciar o fogo e
descansar antes que ela fique quente. Mesmo que esta pessoa queira o fogo, a
faísca não acontece. Tal é a prática do esforço correto.
Oh, Monges!
Não percam a atenção correta ao procurar por um mestre ou
por um amigo. Se vocês perderem a atenção, as paixões poderão entrar. Por isso,
Monges, sempre mantenham a plena atenção. Se perderem a atenção, perderão todo
o mérito. Se o poder da atenção for forte, vocês não poderão ser feridos pelos
desejos, assim como não teriam o que temer se entrassem numa batalha usando uma
armadura. Esta é a prática de não perder a atenção.
Oh, Monges!
Se unificarem suas mentes, suas mentes estarão concentradas.
Quando suas mentes estiverem concentradas, vocês poderão compreender as marcas
do surgir e do extinguir de todas as coisas no mundo. Por isso, Monges, vocês
devem praticar a concentração sempre e diligentemente. Se obtiverem a
concentração, a mente não ficará dispersa. Assim como as barragens são mantidas
em bom estado para conservar a água, o praticante, para o bem da água da
sabedoria, deve concentrar-se em meditação e não permitir que vaze. Tal é a
prática da concentração.
Oh, Monges!
Se vocês tiverem sabedoria, não terão ganância. Observem-se
e não permitam que a sabedoria se perca. Através do Dharma vocês poderão se
libertar. Se assim não o fizerem, não serão considerados seguidores do Caminho,
nem mesmo leigos serão. Em verdade, a sabedoria é um navio forte que os leva
através do oceano da velhice, doença e morte. Repito, a sabedoria é uma grande
lâmpada iluminando a escuridão da ignorância, é um remédio maravilhoso para
todas as doenças, é um machado afiado que corta a árvore das paixões. Por isso,
Monges, através do ouvir, do pensar e do praticar, vocês devem aumentar sempre
a sabedoria. Se vocês possuírem o brilho da sabedoria poderão ver claramente,
com seus próprios olhos. Tal é a sabedoria.
Oh, Monges!
Se vocês se engajarem de forma leviana em conversas inúteis,
suas mentes ficarão confusas. Mesmo que tenham deixado suas casas não poderão
obter a libertação. Por isso, Monges, vocês devem imediatamente abandonar
pensamentos confusos e as conversas desnecessárias. Se quiserem obter a benção
de Nirvana, vocês devem apenas extinguir o mal de falar à toa. Tal é a prática
de evitar a fala fútil.
Oh, Monges!
De todas as atividades meritórias vocês devem, de todo
coração, concentrar-se em afastar qualquer forma de indulgência pessoal, assim
como vocês evitariam um ladrão. O benéfico Ensinamento de Grande Compaixão do
Mais Honrado agora se completou.
Oh, Monges!
Vocês devem se esforçar diligentemente na prática do Dharma.
Tanto se viverem nas montanhas, à beira d?água, sob uma árvore num local remoto
ou num aposento sossegado, mantenham a plena atenção no Dharma que receberam e
não o esqueçam. Vocês devem sempre se empenhar na prática do Dharma e do
esforço correto. Se não fizerem nada e morrerem em vão, vocês só encontrarão
arrependimentos futuros. Sou como um bom médico que, reconhecendo uma doença,
prescreve a receita apropriada. Se o remédio é tomado ou não, já não é de
responsabilidade do médico. Novamente digo: sou como um bom guia que mostra às
pessoas o melhor caminho. Se elas não o seguirem, sabendo de sua existência,
não é culpa do guia.
Oh, Monges!
Se tiverem qualquer dúvida sobre as Quatro Nobres Verdades,
perguntem imediatamente. Não guardem as dúvidas sem procurar resolvê-las. Por
três vezes, o mais Honrado enxortou os Monges dessa forma, mas ninguém na
assembléia falou, pois não havia dúvidas. Nesse momento, Aniruddha, percebendo
a mente dos que estavam ali reunidos, disse a Buda: - Honrado do Mundo! Mesmo
que a Lua fique quente e o Sol torne-se frio, as Quatro Nobres Verdades
ensinadas por Buda não podem mudar. A verdade do sofrimento ensinada por Buda é
do verdadeiro sofrimento que não vira felicidade. Apego é a causa verdadeira e
não há outra causa. O sofrimento é destruído quando sua causa é destruída. O
Caminho da destruição do sofrimento é o Caminho da Verdade e não há outro caminho.
- Honrado do Mundo! Todos estes Monges têm certeza e não têm dúvidas em relação
às Quatro Nobres Verdades. Se nesta assembléia houver alguém que ainda não
completou sua compreensão, ao ver a passagem de Buda se lamentará. Aqueles que
apenas agora penetraram o Dharma obterão o despertar ao ouvir as palavras de
Buda. Assim como na escuridão da noite um raio ilumina a estrada. Se houver
alguém que já tenham completado sua compreensão e cruzado o mar de sofrimento,
terá apenas este pensamento: quão rápida é a passagem do Mais Honrado do Mundo!
Quando Aniruddha falou estas palavras, todos na assembléia claramente
compreenderam o significado das Quatro Nobres Verdades. Mas o Honrado do Mundo,
querendo que todos na grande assembléia se tornassem mais fortes, movido por
sua infinita Compaixão, falou: Oh, Monges! Não se lamentem! Nosso estar juntos
um dia acabaria mesmo que Eu vivesse no mundo tanto quanto um kalpa. Não existe
encontro sem despedida. O Dharma que beneficia tanto o eu como o outro se
completou. Mesmo que Eu vivesse mais não haveria nada a adicionar ao Dharma.
Aqueles que deveriam ser despertos, tanto nos céus como entre seres humanos,
todos foram acordados. Todos possuem as condições para obter o despertar, mesmo
aqueles que não foram despertos. Se todos os Meus discípulos, de geração em
geração, a partir de agora praticarem o Dharma, o Corpo do Dharma do Tathagata
existirá para sempre e nunca será destruído. Saibam que tudo no mundo é
impermanente; o que se junta inevitavelmente se separa. Não se preocupem, pois
esta é a natureza da vida. Pratiquem diligentemente com esforço correto e
procurem a libertação imediatamente. Destruam a escuridão da ignorância com a
luz da sabedoria. Nada é seguro. Tudo nessa vida é precário. Agora obtenho
Parinirvana. É como se libertar de uma doença maléfica. Esta coisa que
descartamos e que chamamos de corpo está afogado no mar do nascimento, velhice,
doença e morte. Como poderia haver alguma pessoa sábia que não se alegrasse ao
se desfazer dele?
Oh, Monges!
Vocês devem sempre, de todo o coração, procurar o Caminho da
libertação. Todas as coisas no mundo, tanto as que se movem como as que não se
movem, são caracterizadas por instabilidade e desaparecimento. Parem, agora!
Não falem! O tempo passa. Atravesso. Este é o Meu Ensinamento final.
Revisão do texto feita por Monja Coen Roshi em fevereiro de
2003 Tradução do inglês para o português de Monja Coen Roshi, São Paulo,
Brasil, fevereiro de 2002. Tradução do japonês para o inglês de Kazuaki Tanashi
e Jonathan Condit, São Francisco, EUA, Maio de 1980.
Fonte: http://www.viazen.org.br/si/site/0108/p/Breve%20Parinirvana%20Sutra
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
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Mente de principiante
"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito" (Suzuki, Shunryu).