Na verdade, tanto no Zen como na vida não há nada a que possamos nos agarrar e dizer: "É isto. Entendi". Portanto, cada livro a respeito do Zen é como uma história de mistério onde falta o último capítulo. Há sempre algo que escapa à definição, que nunca poderá ser expresso em palavras, e, quanto mais firme tentamos segurar, está sempre um passo a nossa frente. E isso é devido ao fato de a descrição e a definição serem a morte, e a verdade do Zen não pode ser morta, assim como não podemos matar um dragão com múltiplas cabeças porque, no antigo mito, uma outra cabeça cresce no momento em que cortamos uma delas. Pois o Zen é a vida. Tentar compreender o Zen é como tentar compreender a nossa própria sombra, e todo o tempo estaremos correndo para longe do sol. Quando por fim compreendemos que nossa sombra nunca poderá ser capturada, há uma súbita reviravolta, um relâmpago de Satori e, na luz do sol, o dualismo do eu e sua sombra desaparecem. Então o homem percebe que o que ele estava tentando captar era apenas a imagem irreal do seu verdadeiro eu, ou aquilo que sempre foi, é e será. Por fim, ele alcançou a iluminação.
(Alan Wats. O espírito do Zen. L&PM).
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