domingo, 31 de julho de 2011

Um código de comportamento para proteger a si mesmo

Em Plum Village, temos centenas de monges, monjas e leigos praticando juntos como um organismo. Nós temos um código de comportamento chamado de Treinamentos da Plena Consciência. Este código é tão antigo quanto o Buda e tem sido passado adiante por milhares de anos, mas não é imposto a nós por ninguém. É algo com o qual temos que concordar para a nossa própria felicidade.

Como um indivíduo, você tem que ter um código de comportamento para proteger a si mesmo. De maneira similar, sua família e seu local de trabalho também têm que ter algumas práticas de comum acordo para se protegerem enquanto família ou comunidade. Talvez vocês concordem em se sentarem juntos calmamente antes das refeições ou se sentar sozinho quando estiverem com raiva, antes de conversar com alguém. Esses acordos mútuos podem proteger e nutrir vocês mesmos, suas famílias ou sua comunidade de trabalho.

Para funcionar como um organismo, é necessário haver um comportamento que seja aceitável e desejável por todos. Você não pode apenas usar a autoridade de pai ou mãe para obrigar um filho a fazer alguma coisa. Se eles estão fazendo algo que está ferindo sua família, você tem que explicar isso com bondade. Você não pode simplesmente escrever algumas leis: tipo "Não volte para casa depois de tal e tal hora"; "você pode gastar somente esse tanto de dinheiro"; ou "quando eu falar com você, você tem que escutar e não replicar". Todas essas coisas podem ser de ajuda, mas não são suficientes. O código de comportamento tem que ser criado e praticado de tal modo que a comunicação entre todos na família seja possível e proveitosa.

É a mesma coisa no ambiente de trabalho. Só por que você supervisiona as pessoas no trabalho, dar ordens e forçá-las a obedecer não vai funcionar. Como professor, eu não uso a minha autoridade para forçar os meus estudantes a fazer o que eu quero. Não funciona. Ao invés disso, eu sento com meus estudantes e mostro a eles que seu comportamento ou ação negativa não está trazendo felicidade nem pra eles e nem pra comunidade.
Muitos de nós somos professores. A escola devia ser um lugar onde a prática da plena consciência pode ser um agente de proteção e cura. Muitos estudantes vêm de família e situações difíceis. Muitos professores têm suas próprias dificuldades e as levam para a sala de aula. Frequentemente, tanto os estudantes quanto os professores trazem os seus próprios problemas para a escola e aumentam o sofrimento uns dos outros. Para praticar a plena consciência é preciso ter um código de ética que crie um lugar seguro para a energia coletiva da plena consciência possa abraçar aqueles que estão sofrendo. É preciso muita paciência para aceitá-los e dar-lhes a chance de se transformarem.

Para mim, compreensão é o próprio fundamento do amor. Se você não compreender as dificuldades dos outros, seu sofrimento, dor e suas aspirações profundas, você não poderá cuidar deles e fazê-los feliz. É por isso que compreensão é amor. Você tem tempo para observar e compreender? Você compreende a si mesmo? Você compreende as raízes de seu próprio sofrimento, de sua própria tristeza e dor? Você sabe lidar consigo mesmo com solidariedade? Se você nãosouber lidar consigo mesmo com solidariedade, como poderá se relacionar com os outros com compreensão e solidariedade? Este é o tipo de prática que pode promover um código de comportamento que fará o ambiente de trabalho harmonioso, feliz e cheio de paz.

Por isso, professores, policiais, assistentes sociais e todos nós que estamos frequentemente em contato com pessoas que estão sofrendo, precisamos aprender a lidar com nossas próprias frustrações e raiva. Podemos dizer: "Inspirando, eu sei que a raiva está em mim. Expirando, abraço a minha raiva com carinho. Não devo fazer meus alunos ou clientes sofrer por causa da minha raiva, mesmo se alguns deles se comportarem de maneira violenta".

Mais Acordo, Menos Autoridade.

Quando um jovem policial diz "Eu adoro ser tira", pode ser que ele simplesmente goste de seu trabalho como policial e queira ajudar as pessoas. Mas pode ser também que ele goste da autoridade que possui. As pessoas o respeitam como policial e ele usufrui dessa situação. Mas se ele não praticar, mais tarde ele irá sofrer. O treinamento de um policial deveria incluir um treinamento sobre como não identificar-se, o seu ego, com o poder a ele conferido. Isto é muito importante.

Se você estiver treinando policiais, professores ou qualquer outra pessoa em posição de autoridade, você deveria deixar claro, desde o início, que a autoridade não está aí para ser motivo de abuso.

Especialmente nos países budistas, os monges são tratados com muita reverência e respeito. Se não praticarmos a compreensão de que não somos nossos trajes, que não somos autoridades, cairemos vítimas de nossos egos e faremos sofrer a nós e a nossa comunidade. Teremos falhado em nossas vidas como monges. O traje de um monge representa o Dharma. Quando você se torna um monge, você toma os votos de incorporar em si o Dharma, de fazer do Dharma o objeto absoluto de sua vida. Se alguém reverencia você, se alguma pessoa demonstra por você um extremo respeito, não pense que ela está venerando você, o seu ego. Se você pensar assim, você estará perdido. Às vezes, milhares de pessoas se inclinam com extrema reverência a mim. Por causa da plena consciência, eu sei que eles estão reverenciando o Dharma. Eles estão reverenciando o bom, o belo e o verdadeiro. Não estão reverenciando o meu ego. Assim eu permaneço livre. Eu me protejo com a energia da plena consciência. Se eu for pego em orgulho, se eu tiver um pensamento errôneo, uma compreensão errônea, uma percepção errônea de sua veneração, eu morrerei enquanto monge.

Cada vez que um jovem se torna monge ou monja é dado a ele ou ela um traje para vestir - imediatamente eu digo para que ele ou ela pratiquem o ato de soltar-se do ego. Se você se veste em trajes de monge, você será objeto de veneração e respeito para muitas pessoas. Não pense que eles estão mostrando respeito e veneração ao seu ego. Não. Você pode ter ainda muita raiva, ignorância e aversão em você. Eles não estão reverenciando seu ego, mas o símbolo de verdade e beleza que você representa. Mas não diga "Não, não sou digno de seu respeito". Você não tem direito de dizer isso porque você está trajando vestes de monge. Assim, a única coisa que você pode fazer é se sentar muito calmamente, inspirando e expirando, e percebendo que eles estão reverenciando a verdade, a beleza e o Dharma e você estará a salvo.

Quando você veste uma roupa de monge, torna-se um símbolo do Dharma, assim como quando você põe uma farda de policial se transforma em um símbolo da lei, ou quando você se senta atrás de um birô de professor você se transforma em um símbolo de autoridade. Isto pode ser um perigo, mas também dá a você a chance de pensar um modo de trabalhar com as pessoas para criar um código de ética em uma comunidade.

Se vocês estiverem treinando policiais, professores, médicos ou assistentes sociais, por favor, digam de antemão que se as outras pessoas demonstram muito respeito e temor, na verdade demonstram isso para a lei, para a medicina, para a educação. Eles estão demonstrando respeito a um código de conduta e não a você como um indivíduo. Se você sente que as pessoas demonstram deferência, mas você aprecia da maneira errada, você sofrerá mais tarde e o sofrimento poderá se espalhar pelo seu departamento ou pela sua família.

Isso não significa que você não possa apreciar o fato de ser uma pessoa que serve à sociedade. O poder foi conferido a você para que você possa ser útil. Você pode ajudar a proteger as pessoas, oferecer a elas segurança e ajudá-las a curar a violência nelas mesmas, de modo que elas não a usarão para atacar. Aquela pessoa que carrega uma arma e está prestes a dar um tiro é também objeto de seu serviço. Se você puder evitar que ela ou ele atire estará fazendo um bom serviço. E você o faz com solidariedade. Você não os considera seus inimigos. Se você os considerar seus inimigos, isto não estará na linha do pensamento correto. Você não serve apenas aos cidadãos pacíficos, mas também aos criminosos em potencial. Seu trabalho é evitar a violência.

Se você se engajar numa disputa de poder com aqueles os quais você serve, jamais poderá undi-los de maneira feliz, enquanto comunidade. Se você deixar de lado esta necessidade de autoridade, tornar-se-á possível para policiais, professores, agentes prisionais, viverem felizes enquanto escola, departamente, comunidade e apreciar a compreensão e o apoio das pessoas de fora.

Como criar um código de ética mútuo com aqueles aos quais você serve? Deveria haver um tempo para professores e estudantes sentarem juntos para conversar sobre suas dificuldades e sofrimento. A compreensão mútua removerá a raiva e a aversão - e professores e estudantes se comportarão como membros de uma mesma família. Transformação e cura poderão ser possíveis na escola, pois a escola se tornou o lugar para uma segunda chance, uma segunda família. Se professores e alunos tiverem sucesso, serão capazes de levar a cura para casa e para a suas famílias.

Isto é mais difícil de fazer em profissões do tipo policial, mas é possível. Imagino que o departamento de polícia pode organizar sessões de casa aberta e convidar as pessoas da sua área para vir e se encontrar como seres humanos, capazes de dançar, cantar, ser gentis e felizes. As revistas dos departamentos de polícia deviam ser cheias de artigos positivos, estórias e poemas para que a compreensão mútua surja entre os policiais e as pessoas às quais servem. E acho que nós, como civis, deveríamos organizar, de vez em quando, uma festa e convidar nossos policiais a vir e apreciar um concerto, música, dança, para que possamos ver a humanidade do policial. Isto é muito importante.

Não é impossível. Uma vez que os tenhamos visto enquanto seres humanos, poderemos perceber que compartilhamos objetivos, esperança e ética.

Trecho do Livro de Thich Nhat Hanh “Keeping the Peace – Mindfulness

and Public Service”, capítulo 8 - A Safe Place.
Tradução: Samuel Cavalcante
Fonte: http://samoockah.blogspot.com/2007/09/um-lugar-seguro.html


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Impermanência

Desde que tudo é impermanente, a qualquer momento doenças e acidentes podem acontecer conosco ou com aqueles a quem amamos. Devemos aceitar a realidade. Se vivermos cada momento de nossas vidas com mente atenta e nos relacionarmos de modo belo e harmônico com aqueles ao nosso redor, não teremos medo nem nada para nos arrepender, mesmo quando houver uma crise em nossa vida. Se tivermos cônscios de que nascer e morrer são ambos aspectos necessários em nossas vidas, veremos que, se a nossa mãe Terra nos trouxe à vida uma vez, ela trará à vida cem mil vezes mais, e não teremos medo ou sofreremos quando ela abrir seus braços para nos receber de volta. Alguém Desperto mantém a serenidade enquanto cavalga sobre as ondas do nascimento e da morte.
(Thich Nhat Hanh. Transformação e cura. Bodigaya)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu não penso, logo eu existo

Taisen Deshimaru e o ritmo do universo

"Três vezes vi
a lua cheia
num céu sem nuvens”

Basho



É significativa a presença do zen budismo no ocidente, e em particular na América do Norte e na Europa. Isso ocorreu por influxo de mestres e pensadores como Eugen Herrigel (1885-1955) Daisetz Teitaro Suzuki (1870-1966), e Taisen Deshimaru (1914-1982), dentre outros. Com Herrigel, a filosofia zen budista ganha terreno na Alemanha dos anos 1920, sendo sua obra A arte cavalheiresca do arqueiro zen (1948), um importante ponto de referência. Em território norte americano, a influência decisiva vai ser de Suzuki, sendo suas principais obras os Ensaios sobre o zen budismo (em 3 volumes: 1927, 1933 e 1934) e a Introdução ao zen budismo (1934). E o influxo do zen budismo na França foi favorecido pela marcante presença do mestre Taisen Deshimaru, que chegou na região em 1967. É sobre ele que vamos dedicar nossa reflexão nesse breve ensaio, aproveitando o ensejo da publicação na França de uma obra que retrata pela primeira vez, a vinda e atuação de Deshimaru na Europa: Dominique Blain. Sensei Taisen Deshimaru, maître zen. Paris: Albin Michel, 2011. Essa obra serviu de base para a reflexão que se segue.

A expressão japonesa sensei designa, em sentido amplo, o mestre, o mentor e o educador. Assim veio reconhecido Taisen Deshimaru, por sua vida, exemplo e trabalho. Entre seus pares da tradição sôtô foi também identificado com o titulo de rôshi (mestre confirmado). Entre suas influência maiores podem ser destacadas as presenças de Dôgen (1200-1253), o fundador do Sôtô Zen no Japão e do mestre Kôdô Sawaki (1880-1965), outro importante guia zen japonês do século XX. Foi por esse mestre que Deshimaru foi ordenado monge, em 1965, e encaminhado para o ocidente com a intenção de reflorir o budismo. E assim ocorreu, tendo ele chegado à França em julho de 1967, aos cinqüenta e três anos de idade, estando ainda a Europa na ocasião bem virgem do espírito espiritual oriental.

O mestre Dôgên, que preferia utilizar a expressão dharma (o caminho, a via) em lugar de zen, dizia que o crescimento espiritual não dependia da elevação de templos ou da multiplicação das imagens de Buda. Não era esse o caminho ideal de expansão da espiritualidade e fator de iluminação. A seu ver, bastava uma choupana e a sombra de uma árvore para a prática do zazen (a meditação sentada). Em seu clássico Shôbôgenzô, Dôgên sinalizava que o melhor lugar para estudar o caminho era nas montanhas, com a prática do zazen. Não há para ele melhor via em direção à “pura subjetividade” do que a prática da meditação sentada: “deixar cair o corpo e a mente” (shin jin datsu raku). É o melhor recurso para superar a dicotomia entre o sujeito e o objeto. É também o canal de acesso para a “presença mental”, onde o sujeito deixa-se iluminar pelas coisas e cria a possibilidade de alcançar a verdade do Buda. Na esteira de Dôgên, Sawaki consagrou igualmente toda a sua vida à prática do zazen.

Em dedicação profunda a esta prática de desapego e abertura, de mergulho no sûnyatâ, Deshimaru afirmava que “o zen é o zazen”. Nada mais fundamental do que “deixar passar os pensamentos” e buscar o claro enigma da consciência profunda, para além das agitações da superfície. Deshimaru dizia que o universo inteiro está concentrado num grão de trigo e que se o espírito firma-se na pureza é como dar nascimento à primavera. Quando o corpo e a consciência deixam-se penetrar pelo espírito do zazen irradia-se um som que se assemelha ao do vento quando atravessa os ápices dos pinheiros. Mais que seguir os rastros de seus mestres, Deshimaru buscava aquilo que os mestres buscavam. Não há que imitar senão a Via, gostava ele de repetir.

A pista que ensejava seguir era a da profundidade. Numa de suas inúmeras cartas endereçadas a seus discípulos dizia: “Eu creio que vocês deveriam compreender a verdade do budismo. A Índia atual ou o Japão necessitam de uma grande revolução, voltada para a retomada da essência da verdadeira religião. A verdadeira essência do budismo ou da religião não existe mais nos templos ou mosteiros, mas na profundidade de nossos espíritos”. A seu ver, a religião do porvir transcenderia dogmas e teologias, fundando-se, sobretudo, num “senso religioso oriundo da experiência de todas as coisas, naturais e espirituais, em espírito de total unidade”. Em linha de descontinuidade com a tradição da modernidade pós-cartesiana, dizia: “Eu não penso, logo eu sou”. Buscando fidelidade ao seu pensamento, há que deixar-se habitar pelo vasto e ilimitado espaço do Vazio, um Vazio pleno de significado. Há que deixar-se envolver pela “musica rítmica do universo”, como “crianças do Sol e da Terra”. Partilhava com seu amigo, Claude Lévi-Strauss, a idéia de que o homem ocidental cunhou sua perspectiva equivocadamente, entendendo-se mais como um ser pensante do que como um ser vivente, tornando-se, assim, incapaz de harmonizar-se com a natureza.

O caminho proposto por Deshimaru vai na linha de uma espiritualidade interreligiosa, de profunda harmonização. Dizia, com acerto, que uma só flor não faz uma guirlanda e que uma única mão não é capaz de produzir o som. Para que isso ocorra é necessário o exercício de comunhão. Aquilo que visava em sua vida e prática era o caminho em favor da essência de todas as formas de espiritualidade, em sintonia com o espírito zen. Admirava os evangelhos, que abrigavam as atitudes de abertura de Jesus, e também a rica espiritualidades dos mestres sufis. Tudo aquilo que reforçava os caminhos de profundidade espiritual, era por ele acolhido e incentivado. Sua espiritualidade não estava deslocada do tempo, nem do exercício essencial da compaixão. Dizia que aqueles que se sentiam incapazes de amar os outros estavam distantes da compreensão do zen. Sublinhava que “a dimensão última vivida nas profundezas do ser, a dimensão suprema da vida” envolvia a consciência e o amor universal.

Foi irradiadora a presença de Deshimaru na França, sobretudo depois que conseguiu firmar um lugar para realizar o seu sonho de reunir toda a sangha da comunidade européia para a pratica do zazen. Isto aconteceu em Gendronnière, a partir de junho de 1979. A seu redor reuniu um grande círculo de discípulos e amigos, entre os quais pensadores como Karl Jaspers, André Malraux, Jean Paul Sartre e Claude Lévi-Strauss. Também entre seus seguidores, artistas como Maurice Bejart e Arnaud Desjardins. O encontro e a experiência com Deshimaru favoreceu a Bejart a viva consciência da importância essencial da busca interior para a conformação da arte da dança. Dentre seus inúmeros discípulos, o cineasta Arnaud Desjardins, que dedicou a ele um dos belos filmes em torno da tradição zen: “Zen ici et maintenant et partout et toujours”.

Sensei Taisen Deshimaru firmou-se como um verdadeiro embaixador do Sôtô Zen na Europa, e em particular na França. Sua mensagem irradiou-se com sua prática e seu exemplo. Suas inúmeras viagens aos Estados Unidos, Montreal, China, Casablanca, Alemanha, Suíça e Londres serviram para reforçar sua influência num âmbito mais amplo. Um de seus motes singulares, tomados da Sutra do Lótus, indicava que o verdadeiro tesouro está bem próximo da cada um. Não é nos confins da terra que se encontra a paz derradeira, mas ela está aqui bem próxima, ao alcance da mão e do olhar. Basta abrir os olhos e ver: “simplesmente ver o mundo tal como é”. É exercitar-se no precioso dom de si. E sem perder jamais o otimismo, mesmo quando os horizontes se encurtam: “Quando uma porta se fecha, uma outra se abre”.

Deixou como legado singulares trabalhos em torno de sua experiência com o zen budismo, entre os quais destacam-se: L´autre rive. Textes fondamentaux du zen; Zen et vie quotidienne; Le bol et le bâton; Questions à un maître zen; La pratique du zen. Faleceu em abril de 1982 em razão de um câncer no pâncreas. Como ocorre com os grandes mestres, recebeu após sua morte o nome honorífico de Keisan, ou seja, aquele que desvendou a montanha.

Autor: Faustino Teixeira
Fonte: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=18495&cod_canal=66


domingo, 10 de julho de 2011

Conhecimento limitado

Às vezes pensamos que somos superiores aos outros - talvez mais educados ou inteligentes. Ao ver uma pessoa sem educação, um sentimento de desdém pode surgir em nós, mas essa atitude não ajuda ninguém. Nosso conhecimento é relativo e limitado. Uma orquídea, por exemplo, sabe como produzir flores nobres e simétricas, um caracol sabe como fazer uma linda e bem proporcionada concha. Comparando os nossos conhecimentos a esses, sentimos que não vale a pena propalarmos as nossas habilidades, mesmo que tenhamos um Ph.D. Deveríamos é fazer profunda reverência perante a orquídea e o caracol, assim como juntar as palmas das mãos reverentemente diante da majestade de uma borboleta e de árvores de magnólias. Sentir respeito por todas as espécies de seres vivos e objetos inanimados nos ajudará a reconhecer uma parte da natureza búdica em nós mesmo.
(Thich Nhat Hanh. Momento Presente, Momento Maravilhoso. Sextante)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O caminho

Não devemos armazenar conhecimento; temos de estar livres de nosso conhecimento. Arrecadar pedaços variados de conhecimento pode ser muito interessante como coletânea, mas esse não é nosso caminho. Não devemos tentar impressionar as pessoas com nossos maravilhosos tesouros. Não devemos estar interessados em nada especial. Se quer apreciar alguma coisa plenamente, tem de esquecer-se de você mesmo e aceitá-la como o clarão de um relâmpago na total escuridão do céu.
(Shunryu Suzuki. Mente Zen, Mente de Principiante. Palas Athena)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A raiva

Quando a energia da raiva vem à tona, é comum querermos expressá-la para punir a pessoa que julgamos ser a causa do nosso sofrimento. Esta é a energia do hábito que existe dentro de nós. Quando sofremos, sempre culpamos o outro por nos ter feito sofrer. Não compreendemos que, em primeiro lugar, a raiva é problema nosso. Somos basicamente responsáveis por ela, mas ingenuamente acreditamos que sofreremos menos se pudermos dizer ou fazer alguma coisa para punir a outra pessoa. Este tipo de crença deve ser afastado, porque tudo que dizemos ou fazemos quando estamos com raiva só causa mais danos ao relacionamento. Em vez disso, devemos tentar não fazer ou dizer nada quando estamos zangados.


Quando você fala alguma coisa realmente desagradável, quando você diz algo para revidar, sua raiva aumenta. Você causa sofrimento à outra pessoa e ela provavelmente dirá ou fará alguma coisa para se ver livre do sofrimento. E assim o conflito vai ficando cada vez mais intenso. Como isso aconteceu tantas vezes no passado, você conhece bem esse aumento da raiva e do sofrimento, mas ainda não aprendeu nada com eles. Tentar punir a outra pessoa só vai piorar a situação.

Castigar a outra pessoa é autopunição. Este fato é verdadeiro em todas as circunstâncias. Toda vez que os Estados Unidos tentam punir o Iraque, não apenas o Iraque sofre, mas os Estados Unidos também. Isso também acontece entre judeus e palestinos, muçulmanos e hindus, entre você e a outra pessoa. Sempre foi assim. Vamos então despertar e nos tornar conscientes de que castigar o outro não é uma estratégia inteligente. Use sua inteligência, e converse com a outra pessoa para chegarem a um acordo sobre uma estratégia comum destinada a cuidar da raiva. Tornem-se ambos conscientes de que punir um ao outro não resolve nada, e prometam um ao outro que, cada vez que ficarem zangados, vocês não dirão nem farão nada motivados pela raiva. Em vez disso, cuidarão da raiva, voltando-se para dentro de si mesmos praticando a respiração e o andar consciente.

Aproveitem os momentos em que estiverem felizes juntos para assinar o contrato, o tratado de paz, que é um tratado de amor verdadeiro. Esse tratado de paz deve ser redigido e assinado com base no amor, e não como um tratado de paz assinado por partidos políticos. Estes fundamentam seus acordos apenas nos interesses de cada país, mas ainda estão repletos de desconfiança e de raiva. O seu tratado de paz deve ser um tratado de puro amor.
(Do livro “Aprendendo a lidar com a raiva” de Thich Nhat Hanh)
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Mente de principiante

"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito" (Suzuki, Shunryu).