sexta-feira, 30 de julho de 2010

Volta à Terra

Imagine que você e eu somos astronautas. Pousamos na lua e percebemos que a volta à Terra é impossível porque nossa nave está quebrada e sem conserto. Ficaremos sem oxigênio antes que a central de controle de Houston possa nos mandar outra nave para nos resgatar. Qual seria nosso maior desejo? O que nos tornaria mais felizes do que voltar para o nosso belo planeta e andar sobre ele? Quando confrontados com a morte, tomamos consciência da preciosidade que é andar sobre a terra verde.

Por uma acaso maravilhoso sobrevivemos e fomos levados de volta à Terra. Vamos celebrar nossa alegria andando juntos sobre nosso belo planeta com profunda paz e concentração.
(Thich Hhat Hanh. Meditação andando: guia para a paz interior. Vozes)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O essencial é saber ver

O que nós vemos das coisas são as coisas.
Por veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
(Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro. Ficções de Interlúdio/1)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Encontrando refúgio na ilha de si mesmo

Na tradição budista, buscamos proteção em vez de receber batismo. Acampanhado por um mestre e envolvido pela Sangha ou comunidade espiritual, você junta as mãos e diz: "Refugio-me em Buda. Refugio-me no Dharma. Refugio-me na Sangha". Esta também é a prática de retornar ao lar. Seu lar é o Buda, o Dharma e a Sangha, e todos estão à disposição neste exato momento. Você não precisa ir à Índia para praticar os Três Refúgios. Pode praticar bem aqui. Isto determinará a intensidade de sua sensação de estar no lar.
Quando Buda estava com oitenta anos de idade e à beira da morte, disse aos discípulos que se refugiassem na ilha de si mesmos (attadipa). Caso se voltassem para eles mesmos e observassem com atenção, alcançariam o Buda, o Dharma e a Sangha no interior deles mesmos. Esta ainda continua sendo uma prática muito importante para todos nós. Sempre que se sentirem perdidos, desesperançados, separados da vida ou do mundo, saibam como praticar o retorno ao lar. O veículo para isso, para ver o Buda, o Dharma e a Sangha, é a respiração atenta. Esta respiração o traz de volta ao lar - ela gera a energia da conscientização, a substância de um Buda.
(Thich Nhat Hanh. Jesus e Buda, irmãos. Bertrand Brasil)

domingo, 11 de julho de 2010

O pior inimigo

A mente deve ser mais temida do que cobras venenosas, bestas selvagens ou assaltantes vingadores - mesmo grandes incêndios e destrutivas enchentes não podem a ela ser comparadas. É como uma pessoa que correndo celeremente com uma jarra de mel nas mãos olhe apenas para o mel e não veja um grande buraco. Repito, é como um elefante enlouquecido sem uma corrente ou um macaco pulando nos galhos das árvores - ambos são muito difíceis de se controlar. Dominem a mente imediatamente e não a deixem desembestar.
(Breve Paranirvana Sutra. http://www.monjacoen.com.br/)



quarta-feira, 7 de julho de 2010

Equilíbrio - Pouco pode ser mais

Livre-se do que for desnecessário. Mantenha o mínimo de adornos na casa, em você. Uma única flor é mais apreciável do que uma dúzia delas. Escolha bem.
Pouco pode ser mais. É importante saber fazer escolhas. Também é importante saber escolher e apreciar o que é, assim como é. Procure a qualidade essencial das pessoas ou dos objetos e esqueça das hierarquias mundanas. Use, consuma o que for mais natural para o local do planeta em que estiver vivendo. Simplicidade no vestir, no comer, no falar, no andar, no ser. Não queira impressionar ou se mostrar a ninguém. Porém impressione e mostre ao ser coerente e sensível, suave e profunda, naturalmente livre e responsável. Nem tudo pode ser revelado completamente. O mistério intriga e surpreende. Apague a luz ao sair da sala, feche a torneira quando estiver se ensaboando, ouça os sons que você faz ao andar, comer, sentar, dormir, escovar os dentes, abrir e fechar as portas. Seja quase invisível, caminhe sem deixar traços, pegadas. Separe o lixo, preste atenção que muito lixo pode ser reutilizado - recicle. Recicle seus pensamentos, seus hábitos. Fale com moderação, pense antes de falar. Procure criar harmonia entre as pessoas, ao invés de querer ganhar as discussões. Não fale à toa. Reaprenda a dialogar.
Perceba a beleza da luz que entra pela janela, a delicadeza na folha nascendo na árvore, o som do pássaro mesclado com os carros. Ouça mais, atreva-se mais, viva mais.
Monja Coen
(http://www.monjacoen.com.br/)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Afinal, qual o segredo da felicidade?

Estar presente e inteira no instante, apreciando a vida. Ser capaz de transformar cada obstáculo em um portal. Cultivar a mente feliz, mente de contentamento, mente pura e iluminada, a mente que não sabe, capaz de ser flexível, hábil para aprender e responder conforme as circunstâncias. Desenvolver a capacidade de compreensão superior - prajna - sabedoria suprema, a fim de compreender e atuar no mundo de forma adequada e eficiente. Segredo da felicidade? Ser, interser. Apreciar a vida, sua própria vida.
Monja Coen
 (http://www.monjacoen.com.br/)


domingo, 4 de julho de 2010

E Mahakasiapa sorriu - "Ahhhh!"

Numa certa ocasião, a assembléia de monges estava reunida no Pico doa Abutres para ouvir Buda proclamar o Dharma. Havia mais de mil e duzentos monges na plateia, Buda sentou-se no pico, mas não abriu a boca para falar. Um minuto se passou. Dois minutos se passaram. Três minutos. Quase cinco minutos se passaram, mas Buda ainda mantinha a boca fechada. Alguns monges começaram a conjecturar: "O que há de errado com o Buda? Por que não está falando?" Talvez esteja meio doente hoje..." Então, depois de algum tempo, Buda esticou-se e pegou uma flor. Sem pronunciar uma palavra, ele mostrou a flor erguendo-a. Naquela vasta assembleia, ninguém entendeu o que aquilo queria dizer. Porém, sentado ao fundo, apenas Mahakasiapa sorriu - "Ahhhhh!". Tal sorriso fez o Buda dizer: "Eu tenho o Olho da Verdadeira Lei, o segredo da essência nirvana, a forma sem forma e o indefável reino Dharma. Sem depender de palavras ou letras, uma transmissão especial além de todo ensinamento, isso eu passo para Mahakasiapa". Assim Mahakasiapa foi reconhecido como o primeiro sucessor de Buda numa linhagem de ensinamento que se estende ao longo de todo o caminho até nós.
Num simples gesto, Buda ensinou tudo o que precisamos saber sobre a verdade. Ele nos mostrou que compreender a verdade não depende de aprender uma filosofia complicada. Certamente não requer nenhum "doutoramento". Na verdade, a verdade última nem precisa de palavras ou explicações. É assim porque todo o mundo já é a verdade. Apena veja. Apenas ouça. Apenas cheire. De momento a momento, o universo está sempre nos dando uma palestra Dharma maravilhosa sobre a natureza da verdade. O céu é azul. As árvores são verdes. O gosto do sal é salgado; o do açúcar, doce. Quando você vê, ouve, cheira, prova, toca e pensa - tudo, bem assim, é a verdade.  Mahakisiapa sorriu - "Ahhhh!". Também é verdade completa. Nenhuma dessas verdades depende de palavras ou retóricas. Na Primeira Transmissão, Buda nos ensina sobre a natureza da "substância". Nessa transmissão, ele aponta diretamente para a "verdade".
(Mestre Zen Seung Sahn. A bússola do Zen. Bodigaya)

Mente de principiante

"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito" (Suzuki, Shunryu).