Numa certa ocasião, a assembléia de monges estava reunida no Pico doa Abutres para ouvir Buda proclamar o Dharma. Havia mais de mil e duzentos monges na plateia, Buda sentou-se no pico, mas não abriu a boca para falar. Um minuto se passou. Dois minutos se passaram. Três minutos. Quase cinco minutos se passaram, mas Buda ainda mantinha a boca fechada. Alguns monges começaram a conjecturar: "O que há de errado com o Buda? Por que não está falando?" Talvez esteja meio doente hoje..." Então, depois de algum tempo, Buda esticou-se e pegou uma flor. Sem pronunciar uma palavra, ele mostrou a flor erguendo-a. Naquela vasta assembleia, ninguém entendeu o que aquilo queria dizer. Porém, sentado ao fundo, apenas Mahakasiapa sorriu - "Ahhhhh!". Tal sorriso fez o Buda dizer: "Eu tenho o Olho da Verdadeira Lei, o segredo da essência nirvana, a forma sem forma e o indefável reino Dharma. Sem depender de palavras ou letras, uma transmissão especial além de todo ensinamento, isso eu passo para Mahakasiapa". Assim Mahakasiapa foi reconhecido como o primeiro sucessor de Buda numa linhagem de ensinamento que se estende ao longo de todo o caminho até nós.
Num simples gesto, Buda ensinou tudo o que precisamos saber sobre a verdade. Ele nos mostrou que compreender a verdade não depende de aprender uma filosofia complicada. Certamente não requer nenhum "doutoramento". Na verdade, a verdade última nem precisa de palavras ou explicações. É assim porque todo o mundo já é a verdade. Apena veja. Apenas ouça. Apenas cheire. De momento a momento, o universo está sempre nos dando uma palestra Dharma maravilhosa sobre a natureza da verdade. O céu é azul. As árvores são verdes. O gosto do sal é salgado; o do açúcar, doce. Quando você vê, ouve, cheira, prova, toca e pensa - tudo, bem assim, é a verdade. Mahakisiapa sorriu - "Ahhhh!". Também é verdade completa. Nenhuma dessas verdades depende de palavras ou retóricas. Na Primeira Transmissão, Buda nos ensina sobre a natureza da "substância". Nessa transmissão, ele aponta diretamente para a "verdade".
(Mestre Zen Seung Sahn. A bússola do Zen. Bodigaya)
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